sexta-feira, 22 de outubro de 2010

...

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade

2 comentários:

João Roque disse...

Eugénio de Andrade, sempre!

DU disse...

Já gostei muito de Eugénio de Andrade. Depois conheci-o pessoalmente, após uma conferência: Tanto ele como a conferência foram detestáveis, na minha opinião, claro.
No entanto, voltei a reconhecer que tem poemas deveras bonitos e bons.
Gostava de ter escrito este para ti:

«Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.»

Eugénio de Andrade (José Fontinhas)

Do teu DU