As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
Eugénio de Andrade
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2 comentários:
Eugénio de Andrade, sempre!
Já gostei muito de Eugénio de Andrade. Depois conheci-o pessoalmente, após uma conferência: Tanto ele como a conferência foram detestáveis, na minha opinião, claro.
No entanto, voltei a reconhecer que tem poemas deveras bonitos e bons.
Gostava de ter escrito este para ti:
«Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.
No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.
Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.
Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.
Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.»
Eugénio de Andrade (José Fontinhas)
Do teu DU
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